Alcides Celso Oliveira Villaça

Alcides Villaça

ALCIDES CELSO OLIVEIRA VILLAÇA
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4750326697517802
E-mail: acvillaca@uol.com.br

 



HISTÓRICO ACADÊMICO

1999 – Livre Docência pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

            Título: Lendo poetas brasileiros

1984 – Doutorado em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo

            Título: Poesia de Ferreira Gullar

1976 – Mestrado em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo

            Título: Consciência lírica em Drummond

1971 – Graduação em Letras pela Universidade de São Paulo

 


LINHAS DE PESQUISA

A poesia no Brasil
A prosa no Brasil 

 


PROJETO DE PESQUISA

Machado de Assis: faces de um relativismo

Por que a obra de Machado estimula tão controversos acertos, como quem instiga não a conciliação aproximativa de alguma síntese, mas o tensionamento problemático de aceitáveis perspectivas divergentes? Por que surge tão desafiadora a dificuldade de definir com rigor uma linha de leitura de sua obra? Enfim: de qual bem tramado tecido histórico, de que precisos movimentos da consciência, de que estudadas práticas retóricas sabe o autor tirar proveito para driblar com método alguma estabilização de sentido? E, por falar em método: qual?

Será talvez o caso de entender que Machado de Assis, em sua alta maturidade de ficcionista, a partir de 1880, decidiu-se por traços fortes do relativismo crítico: o rigoroso poder de análise não encaminha conclusão; o preciso diagnóstico não resulta em terapia corretiva; a exatidão do exame não parece contar com aperfeiçoamento humano ou qualquer meta evolutiva. “Relativismo” é um conceito amplo e algo evasivo, há muito associado mais ou menos de passagem por tantos críticos a Machado. Aponta, já de saída, para um critério de composição que desdenha os absolutos e favorece as ambiguidades, os paradoxos, os caprichos, as elipses do juízo. No entanto, reconhecer genericamente a atuação de algum relativismo pode não ir além de um lugar comum, quando não se contempla a indispensável especificação de casos.

Como se sabe, a melhor literatura repele conceitos já digeridos: o desafio está em identificar cada obra como um momento particular e único, sem prejuízo para o que também repercuta de parâmetros estéticos e de amplos quadros históricos. O leitor sai de um grande texto provocado pelo dever de um reconhecimento preciso do que leu, da fonte reconhecível de sua boa perturbação. Com Machado, esse desafio é quase corporal, obriga a multiplicadas leituras, impõe atenção à linguagem amarrada de modo tão especial por meio de falsos nós que o narrador dá como bem atados ou de nós verdadeiros que se dão como desatados, realça detalhes mínimos que fazem grande a arquitetura geral, pede reconhecimento do sistema orgânico que preside a respiração de todas as falas.

Qual relativismo, de fato autoral, Machado coloca em situação? Como o constrói, de modo a torná-lo uma ferramenta tão característica como dissimulada? Que consequências tem aberto com essa prática, que se revela mais e mais aguda nas sucessivas interpretações que recebe? Não se deve justamente a esse relativismo a famigerada capacidade de atualização história do foco machadiano? A essas perguntas não quero responder com cogitações teóricas e aportes bibliográficos da tradição crítica de Machado, a quem tanto devo: julgo que o melhor caminho está sempre no confronto minucioso com o texto machadiano, em busca daquela familiaridade com os procedimentos narrativos que viabiliza, por fim, a proposição de juízos críticos.

É o que essencialmente pretendo buscar aqui, no desenvolvimento das leituras de alguns de seus contos mais agudos. Pretendo que esse processo de leitura de contos, em que os passos da análise visam também a um desenho mais geral de poética, fazer ressoar passagens críticas do autor por outros momentos de sua obra ficcional. O apego às formas bem visíveis ou apenas entrevistas num conto é um passo para desdobramentos em outros e, quem sabe, para a constituição de uma poética geral da maturidade de Machado.